“O Judiciário não é a boca inanimada da lei”

Deputado Flávio Dino (PCdoB-MA) fala sobre ativismo judicial na abertura da programação científica do 15º Conamat

O deputado federal Flávio Dino (PCdoB-MA) abriu os trabalhos do segundo dia (29/4) do 15º Conamat, que acontece em Brasília. O parlamentar participou de um painel, integrado também pelo juiz do Trabalho da 10ª Região Antonio Humberto de Souza Júnior, ex-conselheiro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e coordenado pelo vice-presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), João Oreste Dalazen.

O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Sepúlveda Pertence, que ministraria a conferência de abertura, não pôde comparecer ao evento, por problemas de saúde. Coube ao deputado Flávio Dino discorrer sobre o tema “Ativismo judicial e democracia”. “Gostaria de homenagear o ministro Pertence, que está entre os dez maiores juízes constitucionalistas do Brasil de todos os tempos. Tenho certeza de que ele figuraria na lista da maioria dos que aqui estão e em minha lista, pela importância que teve na conformação do novo Direito Constitucional brasileiro”, afirmou o deputado, ao referir-se à Constituinte de 1988.

Flávio Dino sintetizou a temática do painel, que abordou o ativismo judicial, em duas afirmativas. Para o parlamentar, na fase atual em que o país vive, “o ativismo judicial é imprescindível, necessário e positivo para a democracia”,  já  “o ultrativismo  judicial pode ser uma ameaça à democracia”.

No diagnóstico que fez dessa tensão dialética que envolve a questão do ativismo judicial, Flávio Dino afirmou que ele existe, na atualidade, por uma confluência de fatores, entre os quais o redesenho do papel que classicamente se poderia conferir o Poder Judiciário. Segundo o parlamentar, o ativismo explica-se também pela “harmonia conflituosa” entre os três ramos do Estado brasileiro – Executivo, Legislativo e Judiciário. “O Judiciário não é a boca inanimada da lei, como falava Montesquieu no “Espírito das Leis”, disse.

Para o deputado, o ativismo judicial é resultado do atual momento histórico brasileiro, impulsionado, entre outros momentos, pelo crescimento do papel do Poder Judiciário nos últimos dois séculos.  Nesse aspecto, Flávio Dino elencou o que denominou de “fatos geradores e que legitimam o ativismo judicial”, entre eles a desconfiança e a depreciação da política; a hegemonia do neoconstitucionalismo; o incremento do  controle de constitucionalidade; a expansão do Estado; a nova abertura das normas jurídicas; o pragmatismo jurídico; o dirigismo constitucional; entre outros.
Flávio Dino terminou sua intervenção falando sobre o que considera as atuais tendências do Brasil.

“Há uma flexibilização ainda maior dos limites do Poder Judiciário, que está cada vez mais ‘invasor’. Não faço um juízo valorativo, se isso é bom ou ruim, é apenas uma constatação”, disse, ao ressaltar o fato de a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) ser a maior referência do “ultrativismo” do Poder Judiciário. Outras tendências brasileiras, na visão do parlamentar, são a ampliação da velocidade do STF, que se tornou mais intervencionista e ágil, e a grande força política que hoje possui o Poder Judiciário.

Sobre as possíveis consequências do excesso de ativismo judicial, Flávio Dino lançou uma indagação: “Quais são as fronteiras desse processo que temos ainda em curso, de o Poder Judiciário ocupar cada vez mais essa função crescentemente política, de arbitramento dos conflitos e de ter, portanto, um poder político no Estado?”.

Receba nossa newsletter

SHS Qd. 06 Bl. E Conj. A - Salas 602 a 608 - Ed. Business Center Park Brasil 21 CEP: 70316-000 - Brasília/DF
+55 61 3322-0266
Encarregado para fins de LGPD
Dr. Marco Aurélio Marsiglia Treviso
Diretor de Assuntos Legislativos da Anamatra
Utilizamos cookies para funções específicas

Armazenamos cookies temporariamente com dados técnicos para garantir uma boa experiência de navegação. Nesse processo, nenhuma informação pessoal é armazenada sem seu consenso. Caso rejeite a gravação destes cookies, algumas funcionalidades poderão deixar de funcionar.